segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Camille Claudel


Quando vi "A onda", em 96, entendi porque Rodin teve que internar a moça. Foi fácil convencer o serviço psiquiátrico - era só dizer que ela queria ser maior que ele! eles cairiam fácil. E caíram mesmo. Como essa moça estava nadando tão mais longe, e como a gente tem que agradecer a existência de mulheres como Isabelle Adjani, cuja simples respiração imóvel já nos seria epifania suficiente. Mas ela ainda recontou Adele Hugo e Camille Claudel.

Não acredito nas mulheres, mas que existem, existem.



Uma Lacuna em "Big Bang Theory"




Quando o nerd-power ressuscita, na última década, a série que melhor representou o pensamento nerd - com mais dignidade, qualidade, humor mesmo - foi o Britânico IT crowd. Humor com uma elegância clássica, equilíbrio - e mesmo assim, engraçado. Na América, 3 anos depois de estrear, "Big Bang Theory" está bombando de audiência. Um mérito aquilo tem: algum rigor com a verossimilhança - existem bons consultores, e quando falam como alunos até agora não vi nenhum erro. Não vou meter a boca naquele nanico sem carisma algum (o protagonista), porque ele tem a mesma doença nasal de Fran Drescher, e eu não rio das mazelas alheias, por princípio. Sheldon tem o mesmo defeito do personagem de Jack Nicholson com TOC - existe gente com TOC, mas não com TODOS os tipos de TOC. Mas tem alguma coisa mais fundamental, mais direta, que resume essa sensação de que aquilo é uma boa merda, e nada mais.


Depois de contrapor com as obras relacionadas ao gênero e anteriores (como Vivas instrui), como "Real Genius" e "Revenge of the Nerds", que são filmes de formação do conteúdo replicado em BBT, percebi a falha: falta o stoner. Existem vários episódios patéticos que ilustram essa lacuna: um Sheldon insone tem que tentar dormir na casa de Howard, e este oferece um leite da sua mãe batizado com Ropinol ou coisa que o valha; Leonard, "Hadji" e Wolowitz, acampando, comem cookies "especiais" presenteados por 2 titias; Sheldon tem overdose de cafeína (!), e coisas assim. Ainda está na 3a. temporada, e isso vai acontecer com certeza mais vezes. É engraçado imaginar as peripécias que eles terão de inventar para fazê-los ficar "chapados" - sem saber e sem querer, é claro. Interessante também é notar que isso se torna incômodo por coerência interna mesmo com a composição dos personagens da série, em si - o IT crowd tinha raríssimos momentos-stoner e isso nunca depôs contra a série. É que em IT crowd eles beiram os 35 anos de idade cultural e 25 de cronológica, e isso tira o "deslumbramento" desse assunto. Em BBT, eles são ao mesmo tempo calouros (quando se trata dessas coisas) e pós-graduandos, para poderem beber quando necessário - ou seja, sempre maximizando o público!

Mas, então, por que, mesmo depois de 70's show ter escancarado o uso narrativo da lisergia (ou um parente dela), por que esses executivos não arriscaram? pode ser a fome de mercado. Um nerd-stoner pode incomodar algumas boas famílias, ou propagar valores incertos. Pode restringir público. Coisa que torna a situação mais patética ainda. Você engole um esterilizado Papai sabe-tudo e não percebe. Bom, de qualquer modo, prefiro eles ao friends, na categoria screensaver.